Grupo Tyohom-dyapa na aldeia Jarinal (Foto: Victor Gil / Acervo CTI)

Do passado aos dias atuais: O desafio da proteção aos povos isolados e de recente contato

A Edição #05 do Boletim Povos Isolados na Amazônia traz para o leitor o tema do desafio da proteção aos povos isolados e de recente contato, do passado aos dias atuais. A grave situação de saúde dos Tyohom-Dyapa, povo de recente contato que vive hoje com os Kanamari na aldeia Jarinal, Terra Indígena (TI) Vale do Javari; as iniciativas do povo Matsés de ambos os lados da fronteira Brasil-Peru para realizar a vigilância de seu território e, consequentemente, a proteção aos isolados que vivem no entorno; e, por fim, os contatos com os Awa Guajá ocorridos durante o longo processo de regularização da TI Awá, no Maranhão, são as histórias que compõem esta edição.

No Vale do Javari, o grupo de recente contato, conhecido como Tyohom-Dyapa, vivenciou a agressividade das frentes extrativistas durante o século XX. Boa parte deles passou a viver fugindo dos invasores que, para viabilizar seus empreendimentos, expulsavam os habitantes tradicionais da floresta. Com o contato, os Tyohom-Dyapa passaram a conviver com não indígenas e com outros povos já contatados. A mudança nos hábitos, o surgimento de novas necessidades e a aproximação com a cidade agravaram os problemas de saúde que já haviam chegado à população no contexto do contato. Sem a devida assistência dos órgãos responsáveis, o resultado é uma situação de extrema vulnerabilidade e decrescimento populacional, que poderia ser evitada caso as inúmeras denúncias aos órgãos responsáveis fossem devidamente consideradas.

As experiências acumuladas com as invasões no passado também dão corpo às iniciativas de vigilância territorial dos Matsés, que ainda hoje convivem com as ameaças de madeireiros, caçadores, pescadores e outras frentes que exploram a terra ilegalmente. Além de garantir a preservação da biodiversidade local, os Matsés colaboram com os órgãos do Estado brasileiro responsáveis pela proteção de povos indígenas em situação de isolamento voluntário – mesmo que estes órgãos não lhes deem o devido apoio –  alertando sobre a presença de invasores na região.

Por último, contamos a história dos contatos com grupos Awa Guajá isolados que ocorreram durante o processo de regularização fundiária da TI Awá. A chegada de trabalhadores que atuariam na construção de rodovias e da Estrada de Ferro Carajás, que passam pela região, acelerou o processo de contato com os Guajá. As invasões, principalmente de madeireiros, e a formação de fazendas na região trouxeram consequências que ainda hoje afetam os grupos que decidiram permanecer sem contatos sistemáticos com outros grupos Guajá, os ocupantes do entorno  ou agentes do governo.

Sejam povos de recente contato, sejam povos em isolamento, os direitos indígenas à saúde e à proteção de seus territórios é o desafio urgente que se coloca para o conjunto de nossa sociedade. Através do Boletim Povos Isolados na Amazônia, o Centro de Trabalho Indigenista pretende alertar a sociedade para tais questões e atuar na solução dos problemas.

Boa leitura!

 

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